Reportagem de sexta-feira, 1º de maio, da Coluna Opinião, Jornal O globo, página 7
Por: José Maria Sobrinho (é empresário e foi vice-presidente de planejamento Flamengo.)
O ex-jogador e atual dirigente profissional do Milan, Leonardo, emitiu um pronunciamento oportuno, firme, impactante, controvertido, que provocou grande repercussão no meio do futebol, especialmente, no Clube de Regatas do Flamengo. Imediatamente, os “cartolas”, ferrenhos defensores do statuo quo, reagiram com posições superficialmente de paixão e amor ao clube, mas, no fundo, indicativas do interesse em manter privilégios. Futebol tornou-se um negócio de vulto. Hoje, os grandes clubes do País possuem orçamentos em torno, ou pouco acima, de 100 milhões de reais. Na verdade, poderiam e deveriam estar com o faturamento na casa dos 500 milhões. Tal circunstância, fácil é de se perceber, exige uma administração com estrutura organizacional adequada, a cargo de especialistas profissionais competentes, com dedicação integral. No entanto, no Brasil, isso ainda não ocorre. Muito ao contrário. Como consequência natural, em processo acelerado, os clubes se endividam e ficam mais atrasados e dependentes dos clubes da Europa, da Ásia e até do Oriente Médio.
É preciso reconhecer que os dirigentes voluntários tiveram um papel fundamental na construção dos maiores clubes do País. Por essa contribuição devem ser enaltecidos, louvados, respeitados. No entanto, agora, em sua maioria, reagem contra a modernidade da gestão e, assim, estão se colocando na contramão da história. Paradoxalmente, passam a ser, também, os responsáveis pela atual situação calamitosa dos clubes, alguns, sob a análise patrimonial, em estágio pré-falimentar. No afã de manter suas influências e na medida em que sentem a avalancha que se forma para a mudança, esses dirigentes voluntários criam artifícios e frases de efeito, para não reconhecer a evidência de que o modelo vigente exauriu-se. Apresentam alternativas híbridas, paliativas, postergáveis e inviáveis. Fogem da discussão. Em atitudes arrogantes, tentam desqualificar e menosprezar os defensores da evolução, da transformação. Mas afinal, qual o modelo de gestão “salvador”?
Fique claro que não há a solução padronizada, não existe o pacote fechado. A nova forma de gerir o futebol, que não precisa ser, obrigatoriamente, através de uma sociedade empresária, embora isso pareça ser a melhor opção, deve atender às peculiaridades de cada clube e a alguns princípios básicos, a saber: autonomia de gestão, por meio de delegação planejada, que atribua aos administradores responsabilidade na operação do futebol, do negócio e garantias na função; administração totalmente profissional; comprometimento com metas – esportivas, financeiras, administrativas e patrimoniais; controle da gestão, com transparência e por auditores especializados; desvinculação da gestão do futebol da dos demais setores e esportes do clube. Deve, também, ficar bem entendido que não há modelo, por melhor que seja, sob a luz da teoria, que resista aos aproveitadores, aos “palpiteiros de plantão” e aos arraigados processos obsoletos e viciados.
Uma coisa é torcer, outra é administrar. Face à fratricida luta interna pelo poder existente nos clubes, para ter êxito, a reestruturação deveria se originar sob uma condição consensual: o compromisso de todos aqueles “cartolas” que exerceram cargos, nas últimas três décadas, de se afastarem das funções diretivas, dando lugar à imprescindível renovação. Só assim seriam expurgados os vícios, procedimentos e comprometimentos lesivos, acumulados durante esse período.
Aos dirigentes voluntários caberiam fazer parte de um órgão de direção superior, com atribuições, entre outras, de aprovar e controlar o Plano de Ação, os orçamentos, as contratações dos executivos profissionais. Seriam eleitos pela Assembléia Geral e em número reduzido. Eis aí, a “certa analogia” do Flamengo com o nosso Congresso. Os “cartolas”, desgastados e desacreditados pela situação a que levaram o Clube em décadas de atuação, e os congressistas, submetidos à pior reputação da história, por atitudes condenáveis. Destarte, no propósito maior de recuperar e preservar suas instituições, concordariam em se retirar de cena. As nações – rubro-negra e brasileira – clamam por isso. Pano rápido!